Quillon – Fort Kochi – 23 -25 August 2008

27 de setembro de 2008

Nosso segundo trem foi um pouco mais atribulado que o primeiro e, tenho a impressao que quanto mais ao Norte do pais vamos nos aproximando, gradualmente a coisa ira piorar. Pegamos dois bons lugares, mas quando estavamos prestes a chegar em Cochi, o funcionario veio nos informar que estavamos na classe errada, e deveriamos nos dirigir a ‘classe basica’.

Bom, classe basica, acho que era um eufemismo para o que encontrei a minha frente: em bancos de madeira, vagoes superlotados, imundos, entendi que os trens sao um reflexo da sociedade indiana, e seu sistema de ‘castas’, um dos pilares da religiao hindu e ainda e amplamente utilizado em toda a India.

Segundo ele, como no trem, a sociedade e dividida por categorias, que determinam qual sera a sua profissao e com quem voce ira casar, uma vez que nao e permitido a  transicao de uma categoria a outra. A ‘primeira classe’ e reservada para os sacerdotes hindus (claro, foram eles que criaram este sistema…), professores e filosofos e abaixo de todas as castas estao os ‘dhalits’, ou os ‘intocaveis’, como sao conhecidos por aqui, que sao destinados aos piores trabalhos, como limpadores de rua e de latrinas.

Nao tive coragem de encarar a classe basica, mesmo porque, nao havia espaco fisico para mim e para o Al ficar de pe, com nossas mochilas, naquele confinamento de pessoas. Como faltava bem pouco para chegarmos, demos uma de turistas ‘desavisados’ e voltamos para nossos lugares.

Ate agora, tudo o que escutei sobre a India provou ser verdade, mas a maxima que mais venho encontrando e que ‘voce nunca sabe o que encontrara pela frente’. Saindo dos calmos remansos de Kerala para cair naquela bagunca do centro de Quilon foi um choque e tanto. Por isto, quando chegamos a Cochi e pegamos a balsa para Fort Cochin, deixei a mente aberta para o que der e vier.

E o que veio, foi uma agradavel surpresa. Conhecida como a Rainha do Mar Arábico, Cochi foi um importante centro comercial de especiarias entre romanos, judeus,  árabes, e chineses desde os tempos mais remotos. Uma das primeiras colonias de Portugal na India, a cidade foi mais tarde ocupada por holandeses, e mais adiante, por britanicos.

Fort Cochi, na peninsula sul da cidade e um bau de herancas de culturais, presentes lado a lado, pelos seus quatro cantos.

A arquitetura das casinhas baixas, com varandas antigas, por entre as ruas de paralelepipedo sao uma mistura de Parati com algumas cidades do interior do Brasil, ja que a cidade ostenta varias pracinhas arborizadas, com bancos de concreto e gramado. As ruas do centro sao permeadas com bons restaurantes e lojinhas com mesinhas na calcada e uma gostosa sensacao de calmaria pelo ar. Sem querer, enquanto buscavamos uma pousada, caimos na casa onde Vasco da Gama passou os ultimos anos de sua vida, mas que hoje funciona como hotel. 

Descansamos as primeiras horas e quando a noite chegou, saimos para jantar. Alem dos otimos restaurantes no centro, na area do porto ha um excelente mercado de peixes, onde os pescadores comercializam suas pescas, que podem ser levadas para serem preparadas num dos restaurantes locais.

Compramos umas lagostas, por 2 libras e, ali, nas ruas do centro, sentamos numa das barraquinhas ao ar livre.

Um casal de coreanos estava ao nosso lado, com uma filmadora gigante. Eles estavam preparando um documentario sobre a regiao de Kerala. Apos trocarmos algumas palavras e o al fazer algumas piadas sobre  um filme coreano que assistimos, eles decidiram usar o Al e seus comentarios infames no documentario.

Dali, paramos para uma cervejinha, no unico bar que avistamos na cidade inteira. A cerveja aqui, I’m sorry to say, mas eh uma merda. Jah nao faz muito parte do habito do indiano comum e, depois de experimentar uma das producoes locais, nao os condeno. A cerveja contem preservativos fortes que alem de alterarem o sabor, dao uma terrivel dor de cabeca.

Tambem no estado de Kerala foi banido fumar em lugares publicos. Voce pode faze-lo em lugares fechados, mas nao na rua, um conceito completamente inverso ao ‘smoking ban’ da Europa.

No dia seguinte, fomos fazer turisticagem. Um taxista nos abordou e nos ofereceu de nos levar ate os principais pontos turisticos, por meras cinquenta rupias, uma proposta muito boa para ser verdade. Mas ele tinha um sorriso tao grande e sincero, que aceitamos.

Alias, isto esta acontecendo com agente bastante por aqui, nos estamos nos encantando com a simpatia das pessoas locais, e acabamos nos deixando levar, mesmo se as ofertas possuem um porem. Neste caso, o porem era que alem dos pontos turisticos ele nos levaria a algumas lojas, onde provavelmente receberia alguma comissao por isto.

Mas para ser sincera, nao me importei. Olhar nao custa nada e ja estamos acostumados a nos livrar dos vendedores, pois depois de Istambul, aqui na India isto eh fichinha!

 

 

 

 

 

 

Nossa primeira parada foi numa fabrica de gengibre, onde pudemos acompanhar o tratamento do produto bruto ate a sua finalizacao, quando e embalado e pronto a ser comercializado. Dali, seguimos para a Sinagoga de Pardesi, no distrito judeu, que e um amplo conjunto de vielas, repletos de lojinhas, algumas ainda com fachadas com nomes de proveniencia hebraica.

A Sinagoga em si foi construida em 1568, sendo destruida pelos portugueses em 1662, e reconstruida pelos holandeses, muitos anos depois.

Dali, seguimos para o Palacio Holandes, o Mattancherry Palace, que foi construido pelos portugueses em 1555,e presenteado ao Raja de Cochin. Ali encontramos uma interessante cronologia historica sobre a regiao alem de murais antiquissimos, com pinturas que retratam cenas extraidas do Mahabharata, o epico anciente indiano, que foi uma das bases para o hinduismo . Alguma coisa me diz que tais escrituras parecem ser muito mais interessantes do que outros livros religiosos, pois retratam figuras mitologicas em aventuras epicas onde encontram seres magicos, lutam com dragoes e se engajam em batalhas homericas.

De la, fomos ate o Indo-European Museu, mas confesso que o conteudo historico do palacio foi muito mais interessante. Satisfeitos com o nosso tour, nos depedimos de nosso motorista e passamos a tarde caminhando pela cidade.

Chegamos a Igreja de Sao Francisco, construida por jesuitas em 1503 e uma das mais antigas construcoes europeias na India. Ali tambem esta enterrado o corpo de Vasco da Gama. A influencia jesuita na regiao explica o alto numero de catolicos,  convivendo lado ao lado com hindus, muculmanos e judeus.

Voltamos a regiao do porto e, na luz do final da tarde, pudemos vislumbrar (e nos maravilhar) com as famosas redes pesqueiras de Cochi, uma heranca de sua interacao com chineses e tambem um dos cartoes postais da cidade.

As redes sao impressionantes, e de longe, assemelham-se a grandes aranhas. O mecanismo para mergulha-las e ica-las exige os esforcos de pelo menos quatro homens que, com a modernizacao de tecnicas de pescagem, compromentem sua utilizacao.

 

 

 

 

Passamos a noite estudando nossa proxima rota. Nao muito distante de onde estamos, existem alguns parques nacionais, onde e possivel fazer alguns tours, a procura de elefantes, tigres e outros animais selvagens. Decidimos ir conhecer o Wayanad Wildlife Sanctuary, nas proximidades de Calicut.

E para la nos dirigimos, logo no comeco do dia.

 

Varkala – Quilon – 22 – 23 August 2008

19 de setembro de 2008

Alem de ostentar o menor indice de analfabetismo e mortalidade infantil do pais, o estado de Kerala ainda esconde algumas ‘joias’. Uma delas, sao seus famosos ‘remansos’: um labirinto de canais e lagos interligados que cortam pequenas vilas e plantacoes de arroz e cha. 

Em Quilon e possivel alugar um barco ou canoa e fazer o tour por entre os canais. Pensando nisto, assim que acordamos, fomos ate a estacao de trem de Varkala.

Chegando ali, pegamos nosso primeiro trem na India. A viagem ate Quilon e relativamente curta, entao pegamos um vagao normal e, confesso, estava esperando o pior.  As estacoes sao precarias, com pedintes na porta e filas enormes. Os trens assustam por fora, por serem velhos, sujos e parecem ter pouca ventilacao. Por dentro, apesar da escuridao, ate que nao sao tao ruins e conseguimos dois bons lugares, proximos a janela.

A viagem ate la foi bem agradavel, pela janela, a paisagem era linda, com campos e coquerais ensolarados. De tempos em tempos, um funcionario passava vendendo ‘chai’ ou comida, em forminhas de aluminio. As pessoas compravam, comiam e jogavam a forminha pela janela.

E, nesta hora, olhando para o lado de fora, notei quantos trens, quantas forminhas, ja tinham passado por ali. E um contraste tremendo naquela bela paisagem, montanhas de lixo se amontoando a cada trem, mas parece ser  mais uma questao cultural, os lugares normalmente nao teem cestos e jogar lixo na rua aqui e normal. Tambem, pelas vilas que fomos passando no caminho, o fundo das casas parece ser um armazenamento de restos de comida, embalagens, garrafas plasticas, etc. Caminhoes de coleta nao fazem parte do cotidiano destas cidades e a maioria deste lixo todo e queimado nos fundos da casa mesmo.

Chegamos em Quilon no comeco da tarde.

Pegamos um rickshaw na estacao, em direcao ao porto.
Os rickshaws sao um meio de transporte bem comuns por aqui e o transito, bem, e uma aventura a parte. As vias nao fazem sentido e a lei que rege parece ser a de quem chega primeiro. Ou buzinar mais. Ou os dois, porque buzinar aqui e uma constante.

 

 

Comecamos nosso tour no que pareceu ser um imenso lago de aguas paradas, cercado por vegetacao natural.

Em certo ponto, o barqueiro entrou por uma estreita passagem e ali, fomos adentrando na ‘Veneza de Kerala’, passando por varios casebres, bem simples, templos, plantacoes de cha e reservatorios para a criacao de camarao.

 

 

Fizemos algumas paradinhas durante o trajeto, na primeira delas, visitamos produtores de corda, feitas de fibra de coco. Numa area coberta, mulheres de idades variadas trabalhavam num monte de fibras, extraidas da fruta. Elas pareciam estar separando a fibra de outras partes, para entao poder tranca-las, unindo assim os fios, no formato da corda.  

 

Seguindo adiante, fizemos nossa segunda parada, numa das vilas locais. O dono de um dos casebres nos convidou para entrar. A casa era toda de madeira, amarrada por cordas e chao de terra batido. O proprietario abriu dois cocos e, enquanto bebiamos, ia nos mostrando sua plantacao de pimentas, gengibre, abacaxi, papaia, etc. 

No final do tour, decidimos passar a noite em Quillon, e seguir para Cochi no dia seguinte. Pegamos um rickshaw ate o centro, encontramos um hotel proximo a estacao de trem e fomos procurar algo para jantar.

 Quilon, alem do remanso, tambem e famosa por ter sido um dos mais antigos portos de comercio no Mar da Arabia e, num passado distante foi uma das principais zonas de comercio entre romanos, arabes, chineses e mais tarde, portugueses, holandeses e ingleses, atras das especiarias e tambem da castanha-de-caju, ricamente produzida em toda a regiao.

As ruas sao dominadas por comercios e pequenos mercados. O transitar de pedestres e intenso e o contraste com a calmaria de seu remanso e gritante.

Nao havia comido nada o dia inteiro e, caminhando pela Alappuzha Rd, saimos a caca de um bom restaurante. O primeiro que passamos nao pareceu muito convidativo, com suas paredes escurecidas, azulejos rachados, iluminacao escassa e varios clientes, digamos, um pouco estranhos.

O segundo era pior que o primeiro. O terceiro, idem. Somente quando cheguei no quarto, que me dei conta que por ali, o esquema era esse mesmo e ou sentava e comia sem reparar a minha volta ou ia passar fome.

Ainda temos um mes de viagem pela India e, tenho a impressao que terei este dilema novamente.

Entao, para resolver de vez com esta questao, entramos num destes restaurantes. Eles na verdade sao chamados de ‘working man’s diner’ pois sao utilizados pelos trabalhadores locais ao termino de seu dia. Ali saboreamos um ‘thaly’ , uma selecao de diversos molhos diferentes, geralmente a base de vegetais, servidos com uma porcao de arroz e roti (pao indiano) e, confesso, foi muito melhor do que estava esperando.

E ali vi o quanto somos influenciados pelo visual e esquecemos as vezes que e o resultado que realmente importa. Num pais onde 65% da populacao esta abaixo da linha da pobreza, ter o que comer realmente e um luxo. 

India – Varkala – 19th – 22nd August 2008

18 de setembro de 2008

Duas horas da manha, duas noites sem dormir. Desembarcamos no aeroporto de Trivandrum e, sem passar por nenhum saguao, ja saimos do aeroporto, de encontro a uma centena de rostos que se amontoavam na saida. A calcada, ou pelo menos o que restou dela, era apenas alguns resquicios de concreto, o resto, estrada de terra. Fui procurar um banheiro, e ali, realmente aterrisei no fato de que estava na India: dentro de uma casinha de concreto, sem papel higienico, sem luz, sem vaso…(os banheiros sao de fossa seca).

La fora, um amontoado de pessoas, barraquinhas de comida, taxistas e de repente avistei o Al, cercado por uns seis indianinhos baixinhos. Por uns instantes, parecia que ele tinha sido capturado! Na verdade, eles eram taxistas e queriam nos garantir como seus clientes. Acertamos o preco com um deles e seguimos rumo a Varkala, num carro que deveria ter mais ou menos a minha idade.

O motorista seguiu quieto o caminho inteiro. Estava escuro, as ruas pouco iluminadas nao permitiam que visualizassemos aonde estavamos e, por um instante pensei, imagina, este cara pode levar agente para onde ele quiser e nao iremos nem notar…Bateu um panico rapido, principalmente porque estavamos viajando com o dinheiro da venda van na carteira! E quatro passportes (temos dupla cidadania)….Mais alguns dolares, nossa agente deve valer uma graninha, se este cara decidir nos assaltar!

Chegamos na praia, o motorista desceu, tirou nossas malas do bagageiro, gruniu ‘Varkala’ e ali nos deixou.

Ja fiz algumas viagens na minha vida. Ja passei por alguns lugares estranhos. Mas foi a primeira vez que tive a sensacao ‘Where da fuck am I?’

Eram umas quatro da manha e, mesmo neste horario, algumas pessoas se aglomeravam na praia. Ali, um senhor vestido com um sarongue laranja, o corpo pintado com marcas brancas, sentado na areia e cercado por velas, parecia estar num estado de transe, mesmo estando com os olhos abertos.

Muitas pessoas o assistiam, tomando o que pareceu ser um cha. Quando chegamos, sem querer, divergimos a atencao para nos, e fomos cercados por dezenas de olhares. Nunca havia reparado como os olhos dos indianos sao intensos, grandes e bem desenhados. E, na sombra da fogueira, com o contraste da pele escura, olhando diretamente para nos, tornaram-se ainda mais intensos. A primeira reacao foi a de querer sair dali na hora. Mas, para onde? Onde e que nos estavamos? 

Aos poucos, algumas pessoas foram se aproximando e nos dando algumas coordenadas para chegar ate a area dos hoteis. Subimos uma pequena montanha e logo chegamos a uma praca central e dali, conseguimos ver a area comercial de Varkala, com as lojas e hoteis todos fechados naquela hora da manha.

Sem opcoes e exaustos, deitamos num dos bancos da praca. O Al caiu no sono, eu ainda estava receosa de dormir com toda nossa bagagem ali, fiquei assistindo o mar, que quebrava em ondas fortes no rochedo abaixo de nos.  

Uma densa neblina caia sobre ele. Quando comecou a clarear, o mar e o ceu adiquiriram uma cor lilas e no meio da neblina, alguns vultos negros comecaram a tomar forma. Eram os pescadores voltando do mar. Ja deviam ser umas seis da manha e a cidade aos pouquinhos foi acordando.

Aproveitei e fui procurar hotel para ficar. Tinhamos um mapa e algumas indicacoes. Achamos um lugar bacaninha, de frente para o mar, por 250 rupias (por volta de R$12), mas ja fomos avisados, nao tem agua quente, ja que em Kerala a energia eletrica e super cara e escassa.

Quando o dia clareou fomos conhecer Varkala melhor. A praia fica bem abaixo da montanha onde estavamos. Uma estreita via para pedestres corre rente ao penhasco e faz passagem para os restaurantes, hoteis alem de institutos de ioga, massagem e meditacao.

Coqueiros e mato intercalam-se com trechos de terra vermelha. E no ar… Bem, uma das caracteristicas que achei mais marcante na India ate agora e que ela cheira. Sempre cheira a alguma coisa: as vezes, sinto cheiro de especiarias, outras vezes de incenso, de madeira queimada, as vezes de urina, as vezes de fezes, ja que a maioria das casas no pais nao teem latrinas.

Tomamos nosso primeiro cafe da manha, num dos restaurantes com vista para o mar, e aquela historia de que na India voce vive que nem rei gastando pouco, e pura verdade. Uma refeicao media custa por volta de R$10 (para dois) ou 2, 3 libras esterlinas e as opcoes sao variadas, ja que alem da cozinha indiana, a maioria dos lugares tambem oferece pratos continentais. E muitos sucos naturais, feitos ali na hora, como no Brasil!

Descansamos na parte da tarde e a noite, nos juntamos aos diversos turistas que jantavam ali nos restaurantes do penhasco. Em alguns deles, pescadores exibiam na entrada sua coleta do dia, atum fresco, camaroes enormes, lagosta…

Se, enquanto estavamos mochilando pela Europa, tivemos que ficar de olho para nao estourar o orcamento, na India foi onde decidimos chutar o balde e fazer tudo aquilo que tivessemos vontade. E desta forma, passamos os proximos dias, acordando com o barulho das ondas, tomando cafes-da-manha espetaculares, aproveitando a praia, fazendo ioga a ceu-aberto, tomando coqueteis elaborados durante a noite, seguidos de pratos-de-fruto do mar fresquissimos.
Ainda tivemos o luxo de comprar roupas feita sob medida, com o tecido que escolhemos.

Num destes rompantes de ‘spoil yourself’, decidi fazer uma sessao de massagem ayuredvica. O tratamento consiste em sessoes de massagem, com oleo aquecido, imerso em ervas e plantas, abundantes na regiao. Desde quando estavamos em Sofia, estava com uma dor terrivel na regiao lombar, e vim o caminho todo ate ali a base de Aspirina. Nao sou uma seguidora de medicina alternativa, mas por incrivel que pareca, naquela unica sessao, meu problema foi imediatamente resolvido, como que por magica.

Apos o tratamento, fui esperar o Al num bar local. No terraco, olhando o mar, consegui entender o por que tantas pessoas vem para India atras de ‘iluminacao espiritual’. Embora nao seja uma delas (cheguei aqui por curiosidade e tambem porque estava passando perto!!!), entendo a razao de ser desta causa. O pais tem mesmo algo de diferente, algo que te faz rever valores e filosofias de vida. E, depois do choque inicial de nossa chegada, fomos invadidos por uma sensacao constante de paz e bem-estar e, acho que estamos comecando bem, na descoberta deste novo pedaco de mundo.
 

 

Sharjar – 18th August – Monday 2008

16 de setembro de 2008

 

 

 

 

 

 

O slogan da Air Arabia diz assim: ‘Fly cheap. Fly More’. E nao poderia ser acurado. Realmente voamos barato. E realmente voamos mais porque em nosso voo para India tivemos que fazer uma escala de quase 10 horas em Sharjar, nos Emirados Arabes. 

Estavamos exaustos da viagem e, para espantar o sono, fomos ate o centro da cidade. No caminho,  entre grandiosas mansoes, algumas construcoes sendo erguidas.

Entre o solo escavado, areia, muita areia.  O clima era seco, arido. O ar pesado, o sol, gritante. Claro, se despirmos Sharjar de seu asfalto e construcoes, o que sobra e deserto.

Para mim, deserto tambem esta associado a ideia de inabitavel e, se nao fosse pelo petroleo, nao vejo como uma sociedade poderia estar sobrevivendo ali. Eu pelo menos, nao ia durar um dia. Sabe aquela sensacao de areia quente da praia? Entao, ali senti o mesmo, so que ao inves do ardor vir dos meus pes, estava vindo de cima. 

Corremos para o primeiro shopping center que encontramos e ali, tentamos encontrar algum cafe, para relaxar por algumas horinhas, mas foi em vao, apenas varias lojas vendendo burkas estilosas (!), algumas ate com griffes famosas.

Entre os transeuntes, familias se revezavam entre as diversas lojas, compondo um cenario estranho: geralmente o homem seguindo na frente e as mulheres, cobertas de preto de cima abaixo, seguiam passivamente atras.

 

 

 

Olhando de longe, a paisagem para mim, estrangeira, foi dramatica, os vultos de preto sao inexistentes no cenario, como um photoshop malfeito, onde as imagens sao retiradas grotescamente, deixando apenas sombras. E assim sao elas, as mulheres de Sharjar, sombras de seus maridos, pais, irmaos.

E, quando estava comecando a sentir pena deste modo de viver que elas tem (ainda mais neste calor insuportavel), uma senhora de burka se aproximou de mim e me chamou a atencao por estar de jeans e camiseta. E ai entendi que este modo de vida e estranho para mim, nao para elas. E, para me ambientar, tirei a unica ‘vestimenta’ que tinha na mochila: um cobertor da Air Arabia que ‘emprestei’ do aviao, e usei como xale.

Corremos para outro Shopping Center, desta vez, um que nos pareceu mais ocidentalizado. Encontramos um cinema, e, ainda com umas 6 horas para matar, assistimos filme apos filme! No ar condicionado, com meu cobertorzinho, foi perfeito!

O primeiro filme foi ‘Tropical Thunder’, uma excelente comedia do Ben Stiller. O segundo, ‘A Mumia 3’, que nos fez pensar o que era pior, o filme ou o calor de Sharjar, optamos pelo segundo e voltamos para o aeroporto.

Bye Sharjar! Espero nao te ver tao cedo!!!

Istambul – Friday – Sunday – 15th – 17th August 2008

16 de setembro de 2008

Quando nosso onibus chegou na estacao de Sofia, tivemos uma otima surpresa, ele era bem mais confortavel do que estavamos esperando: poltronas espacosas reclinaveis e o melhor, estava bem vazio.

La pela meia noite, cruzamos a fronteira entre a Bulgaria e Sofia. Do outro lado da estrada, uma fila quilometrica de carros e caminhoes passavam pela checagem de passaportes. Ali e o principal ponto de transicao terrestre para a Europa, e o fluxo, mesmo naquela hora da noite era super intenso.

Um pouco a frente, tivemos que passar pela policia federal turca. Todo mundo teve que descer do onibus, com toda a bagagem, e numa fila, aguardavamos o policial, que olhando em nossos olhos, escolhia aleatoriamente as pessoas a serem revistadas. O clima era um tanto tenso, e me lembrou o notorio filme ‘Expresso da Meia Noite’.

Alias, falando nele, dizem que o seu titulo na verdade veio de uma expressao que era utilizada pela policia turca, que, sem condicoes financeiras para condenar e manter prisioneiros de outros paises, apenas retia seus passaportes, ate o julgamento, ‘deixando escapar’ informacoes sobre o trem, que saia a meia noite para a Grecia.

Dali, seguimos para Istambul e la pelas cinco da manha, chegamos na estacao. O motorista nos transferiu para um microbus e aos poucos, ia parando e deixando os seus passageiros. Nao estavamos certos de onde deveriamos descer, e eu, o Al e o Sam, um americano que conhecemos no caminho, confusos, continuamos no onibus.

La pelas seis da manha, chegamos nas proximidades do centro. Pegamos nossas mochilas e iamos seguindo viagem, quando o motorista comecou a falar um monte de coisas em turco, aparentemente ele queria dinheiro, por ter nos deixado mais ao centro. Nao tinhamos notas pequenas, apenas moedas que sobraram dos paises que passamos e, assim, demos nosso trocado para ele, que se contentou em levar um monte de moedas romenas, que nao deveriam valer mais que 5 Reais.

Continuamos em direcao a Sultanahmet, o distrito onde a maioria dos pontos turisticos e albergues da juventude se concentram. Em nossa caminhada, com o amanhecer do dia como cenario, esbarramos com os fundos da Mesquita Azul, sem querer.

Ali, de frente para aquele monumento, naquela hora do dia, tive a sensacao de que voltamos no tempo, quando Istambul ainda era Costantinopla, ha mais de mil anos atras.

Continuamos passando por estreitas ruas de paralelepipedos e casas de madeira, ainda reminiscentes do periodo do Imperio Otomano, uma viagem no tunel do tempo!  Atravessamos patios e mini-bazares, com muitas lojinhas de tapetes e antiguidades, ainda adormecidas. Ate que chegamos na parte antiga de Sultanahmet, nas proximidades do Mar de Marmaris.

Ali em especial, parece ser o reduto dos mochileiros, com uma sequencia de albergues, hospedados em predios de tres ou quatro andares, com bares abertos na cobertura, com vista para o mar, e restaurantes no nivel terreo, com carpetes na calcada, almofadoes e narguiles.

Encontramos um bom hotel por ali, e nos despedimos do Sam. Tiramos algumas horinhas de descanso e fomos explorar a regiao. Nossa primeira parada foi na Mesquita Azul, que leva este nome devido a coloracao de seus mosaicos internos. Na regiao onde se encontra, bem de frente a ela, esta a Aya Sofia, construida na epoca de Justiniano,  e com o intuito de figurar como a mais bela das Basilicas catolicas do mundo.

Quando Constantinopla foi dominada pelos turcos otomanos em 1453 DC, a Igreja foi convertida em mesquita, como aconteceu com varias igrejas da cidade. Atualmente, funciona como um museu.

A Mesquita Azul por sua vez, foi construida no periodo do Sultao Ahmed, no mesmo terreno onde constavam o palacio dos Imperadores do periodo Bizantino. O intuito era o de se criar uma mesquita ainda mais magnifica que a Aya Sofia.

Se a beleza e imponencia da Mesquita impressiona de fora, por dentro ela e ainda mais fascinante, toda decorada de cima abaixo por mosaicos de azulejo azul, com belos vitrais.

 

Saimos de la e fomos conhecer um dos famosos bazares turcos. Chegamos ate o Grand Bazaar sem maiores dificuldades, e ali, nos perdemos entre seus estreitos labirintos. Os bazares sao um espetaculo a parte: dezenas de barraquinhas vendendo de tudo, desde de joias, especiarias, ate roupas e claro, muitos tapetes. 

Fomos interceptados por varios vendedores locais que, com um simpatico sorriso e as palavras magicas ‘Hey My Friend’ tentavam nos engajar em suas praticas comerciais. Alias, acho que na Turquia, eles teem os melhores vendedores do mundo e o poder da barganha, parece ser um esporte nacional, praticado com gosto nas ruas de Istambul.

Empolgados com a atmosfera do local, aceitamos o convite de um dos comerciantes para conhecer sua tapecaria, o que provou ser uma experiencia, no minimo interessante, ja que aos poucos, ele foi nos cercando de tapetes maravilhosos, enquanto contava um pouco sobre as caracteristicas e as vilas onde haviam sido confeccionados.

Realmente, eles parecem obras de arte, mas, como explicamos para o vendedor, levar um tapete destes na mala, em nossa longa viagem, somente se ele voasse!!!!

Terminamos o dia com uma cervejinha num dos bares do distrito onde estavamos hospedados. A noite estava linda. Pela rua, os bares, com suas calcadas cobertas com carpetes e almofadoes, estavam lotados de mochileiros.  A certa altura, a luz acabou no bairro inteiro, mas sabe como e ne?

Mochileiros nao desanimam com quase nada, e assim continuamos por ali, iluminados apenas por velas, o que deixou a atmosfera ainda mais de ‘Mil e Uma Noites’. 

No dia seguinte, ainda estavamos sem energia eletrica (e ninguem sabia nos informar o que havia acontecido).  Tomamos rumo destino ao Topkapi Palace,  a residencia oficial dos sultoes desde 1462 quando foi construido ate o seculo XIX.  O palacio na verdade e um complexo gigantesco, que faz o Buckingham Palace parecer um simples casebre. Ali, entre vastos jardins, palacetes e livrarias, tambem esta um complexo com 400 quartos, que era utilizado como ‘harem’.

Visitar o palacio e uma experiencia que merece algumas boas horas, pois alem de gigantesco, ele tambem hospeda algumas interessantes exposicoes, como por exemplo, parte do tesouro de seus sultoes.

Tambem, numa alcova especial, estao reliquias religiosas que antigamente estavam em Mecca, mas que com o aproximar da Primeira Guerra Mundial, foram recolhidas pelo Sultao, em ordem de protege-las (mas que nunca foram devolvidas). 

Entre elas, estao o cajado de Moises (aquele que dividiu o mar!), fiapos da barba do profeta Muhamed, bem como um de seus caninos.

 

Pegamos o bondinho e viajamos no tempo para conhecer a Istambul atual. Fomos ate a area de Beyoglu, com seus restaurantes e modernos cafes que transmitem a impressao de estarmos dentro de uma outra cidade.

Voltamos caminhando, e assim que cruzamos a Ataturk Bridge, o dramatico entoar do chamado das mesquitas alertavam os fieis a fazerem suas preces, tornando-as distintas na paisagem.

A Yeni Camil, uma das maiores da cidade, estava bem a nossa frente, seguida por outras menores, mais distantes na paisagem porem numerosas. O cantico pareceu ser bem coordenado, iniciado pela maior, seguido pelas demais e tornou o cenario daquele grupo de mesquitas ainda mais fascinante.

Passamos pelo Mercado de Especiarias e retornamos a nosso distrito que, pra variar, ainda estava sem energia eletrica…

O dia seguinte, utilizamos para fazer um tour rapido pela costa do Mar de Marmara, pois a noite comecamos nossa longa jornada em direcao a India. O tour na verdade acabou levando duas horas, e pra ser sincera, foi bem sem -graca. Na volta, paramos para almocar nas proximidades num dos restaurantes-barcos ali do porto. Na verdade, nos barcos ficam apenas a cozinha e as mesas, na lage a sua frente. Mas sao engracadissimos, pois o mar muitas vezes se agita bastante e os cozinheiros dao um show, cozinhando balancando fortemente de um lado para o outro!

 No final do dia, seguimos para o aeroporto. Adorei Istambul, com toda a sua estranheza e fascinante historia. Estar aqui, no palco de tantos acontecimentos importantes de nossa historia, foi emocionante, e quero muito um dia voltar aqui! Inshalla!

Sofia – Thursday 7th – 14th August 2008

13 de setembro de 2008

Depois da Europa, nossa proxima parada sera na India. O unico detalhe e que nos ainda nao temos visto para la, so para voces terem uma ideia de quao preparados nos estamos!

Fizemos uma pesquisa com os Consulados em nossa rota, e Sofia nos pareceu a melhor opcao, embora ja estejamos preparados para uma espera que pode levar semanas ate o visto sair.

 

Chegamos na cidade e fomos logo atras de acomodacao.

As primeiras impressoes que tivemos, alem da dificuldade do idioma, que agora alem de diferente, usa um outro alfabeto, e que a cidade parece ser um bom lugar para hang around’, ou seja, circular, sentar num cafe, e deixar a vida passar.

 

A cidade estava lotada de mochileiros que, como nos, corriam de hostel a hostel, procurando vaga. Finalmente encontramos um hotelzinho bacana, bem proximo ao centro, e com um mapa da cidade na mao, fomos ate o Consulado da India.

O predio ficava bem do outro lado da cidade, mas conseguimos encontra-lo, semmaiores dificuldades. Assim que chegamos, preenchemos o formulario de solicitacao e fomos chamados para uma entrevista com o consul.

Ao ver nossos passaportes, o consul imediatamente fez a pergunta que temiamos: ‘Por que so agora voces decidiram aplicar para o Visto? Por que nao o fizeram de seus paises de origem? Nos apenas lidamos com cidadaos da Bulgaria. Voces terao que voltar para Londres.’

Esta ultima parte, quando escutei, me deu um frio na barriga. Depois de todos estes 7000 km que rodamos com a Van, mais os trens todos que pegamos, voltar e uma palavra que nao consta no meu dicionario no momento.  Nem do Al.

Trocamos olhares, respiramos fundo e, comecamos nossas desesperadas argumentacoes, que tornaram-se suplicas, apos algum tempo. Sensibilizado, Mr.Patel decidiu avaliar nossa aplicacao. Mas disse que levaria pelo menos uma semana para poder processa-la. Pelo que senti, ele foi com a nossa cara, ele ia dar o Visto, mas nao queria que pensassemos que seria facil.

Deixamos nossos documentos e pegamos o bondinho de volta para o Centro. Descemos no caminho e, perdidos, tentamos encontrar a direcao do hotel. Ali na encruzilhada, um outro mochileiro tambem tentava se localizar atraves de um mapa enorme da cidade.

Nos juntamos a ele e seguimos ate o Centro. Pelo caminho, viemos trocando experiencias de viagens. O nome dele era Daniel, era da Australia e ja estava mochilando por mais de dois anos!

Paramos para almocar e, entre cervejas, demos boas risadas com as aventuras de nosso novo amigo. A certa altura, o papo comecou a rolar sobre Sydney, nosso destino final e onde pretendemos morar por um tempo.

Sai de la animada com os prospectos de nossa nova vida e segui para o hotel, onde exaustos da viagem e mais tranquilos com a situacao do visto, conseguimos descansar.

Passamos o dia seguinte inteiro conhecendo a cidade. Comecamos no Mercado Cigano, uma feira ao ar livre que vende desde alimento ate artigos para casa. Dali, fomos ate a  St Aleander Nevski Memorial Church e tambem ate a Igreja Sofia, que inspirou o nome da cidade. 

 

Quando chegamos no hotel, o Al comecou a sentir umas dores estranhas no musculo do pe, a ponto de nao poder andar, entao decidimos usar os proximos dias para repousar e recarregar as baterias.

E assim o fizemos, enquanto o Al repousava, achei um otimo internet cafe no centro, no Boulevard Vitosha. Alias, ali parece ser a ‘Oscar Freire’ de Sofia, e entre varios cafes ao ar livre, passamos otimas tardes.

Quando a semana seguinte comecou, entrei numa rotina diaria de ligar todo dia de manha para o Consulado, para saber do nosso visto. Conforme prometido,ele ficou pronto na quinta-feira, uma semana certinho desde nossa chegada. Corremos para la, pegamos nossos passaportes e fomos ate a estacao de trem. Sofia e muito bacana, realmente uma cidade super agradavel, mas voce conhece a cidade em dois dias no maximo. Ja estavamos la ha uma semana e a urgencia de ir embora tomou conta de mim.

Na estacao de trem, fomos informados que nao havia mais lugares para Istambul, ate o dia seguinte. Vislumbrei a possibilidade de ficar um dia a mais ali na cidade, mas foi fora de cogitacao, nossa hora tinha dado, sairiamos de la de um jeito ou de outro.

Assim sendo, fomos ate a estacao de onibus e conseguims duas passagens para a noite, de Sofia a Istambul. E assim, nos despedimos da cidade e quando deu nosso horario, embarcamos, rumo a Turquia!

 

 

Bucarest – Wed – 6th August 2008

1 de setembro de 2008

Avaliar um lugar pela sua estacao de trem, e como julgar um livro nao pela capa, mas pelo pior capitulo! Com excecao de algumas belas estacoes, como a Waterloo em Londres ou a Gare du Nord em Paris, geralmente as estacaoes acabam sendo um ‘hang out’ de tipos estranhos e bares duvidosos, e Bucareste nao poderia ter sido diferente.

Como tinhamos algumas horas para matar ali ate nosso trem para Sofia sair, decidimos ir ate o Centro para conhecer a cidade um pouco melhor. Saindo do metro, caimos no que nos pareceu ser uma das pracas centrais da cidade.

Dali, nos dirigimos ate A Curtea Vechia, ou antiga corte, como era conhecida. 

Entre ruinas, pavimentos rachados e casas caindo aos pedacos, fomos ate o Palacio do Parlamento. Bucareste infelizmente e um projeto arquitetonico que nao deu certo.

 

 

Conhecida antigamente como a Paris do Leste Europeu pela beleza e elegancia de suas alamedas e parques, a cidade foi toda reestruturada, durante a ditadura de Nicolae Ceausescu e seus planos megalomaniacos.

Tais planos incluiam a construcao de uma ‘Champs Elisee’ romena, alem de um palacio gigantesco para si proprio, acoplado ao Parlamento. Para tal, dezenas de suburbios foram desapropriados e destruidos, bem como grande parte dos monumentos e antigas construcoes da cidade.

O palacio foi finalizado e hoje e a segunda maior construcao publica do mundo (atras apenas do Pentagono).

Voltamos para a estacao logo em seguida. Vamos pegar outro trem noturno ate Sofia, entao decidimos nos certificar sobre se teriamos leito no trem. Entramos na fila de um dos guiches, que por sinal era enorme. Alguem escreveu na parede ‘O Comunismo esta vivo nesta estacao de trem’  achei perfeito!

Varios cachorros circulavam a nossa volta. Bucareste e a capital mundial da Rabis (raiva), mas pelo menos aqueles me pareceram tranquilos. Quando fui chamada, perguntei sobre nossa passagem. A funcionaria, de repente teve um acesso de nervos, comecou a berrar um monte de coisas em romeno, que pelo que entendi, eu deveria estar na fila errada. Tava ate engracado, ate que ela comecou a jogar umas coisas no chao, ainda fora de si, o que me fez pensar que quemsofria de raiva era ela e nao os cachorros da estacao!

Depois de irmos ao guiche certo, fomos ate a plataforma, aguardar pelo trem. Ele estava vindo de Moscow e demorou pra cacete para chegar.

Nos despedimos de Bucareste sem muita saudades.

Transilvania – Brasov – Monday – Wed – 4th- 5th – 6th August

29 de agosto de 2008

Pegamos o trem no final da tarde. Sao mais de onze horas de viagem, por isto pegamos uma cabine. O caminho ate a Romenia passa por vastas planicies. No trem, muitos mochileiros, fazendo a maior bagunca. Tava ate engracado, ate que algum infeliz apareceu com um violao.

Cara, ja eram mais de meia noite, e a cantoria estava a toda, foi dificil dormir. Quando enfim os cantores sossegaram, foi a vez da policia federal, que, sem a menor cerimonia, abriu nossa cabine para checagem de passaportes. Aproveitei o momento e fui fumar um cigarro, sei que e proibido, mas ao ver o funcionario ali fazendo o mesmo, achei que ele nao se importaria. Tava ali sosegada, quando um outro funcionario se aproximou, falando um monte de coisas em romeno, e apontando para uma porta. No inicio, achei que era porcausa do cigarro, ate que caiu a ficha: ele achou que eu estava tentando despistar os policiais e queria me ajudar!

Agradeci a boa vontade dele, e voltei para o meu lugar. Tentei dormir, mas estava preocupada, eu e o Al estavamos confusos em relacao ao fuso horario da Romenia e, nosso destino final Brasov fica meio que no caminho a Bucareste, nao podiamos perder a parada.

Enfim, ja eram umas quatro da manha quando entramos na regiao da Transilvania. Pela janela, ainda estava escuro. A paisagem alternava campos com pantanos e uma neblina pesada pairava no ar, formando um cenario de filme de terror! Sinistro! Nao dava para enxergar nada, apenas as escuras silhuetas das arvores.

Foi neste clima que chegamos a estacao de trem, la pelas cinco da manha. Pegamos um onibus ate o centro da cidade e, ainda meio dormindo, fomos atras de um hotel. Ai que saudades que deu da Van…

 

O dia comecou a clarear, iluminando uma pequena, mas bela cidade, de predios antigos coloridos e ruas de pedra.

Fomos ate a Piata Sfatului, o ponto mais central da cidade, e tambem onde esta a Casa Sfatului, que no passado era utilizada para torturar prisioneiros.

Achamos uma pensao bem proxima dali e, exaustos, demos uma de ‘vampiros’ e finalmente conseguimos dormir um pouco.

 

A segunda parte do dia, usamos para explorar um pouco Brasov.

A cidade e super agradavel, com seus boulevares, restaurantes ao ar livre, construcoes goticas e ao fundo, as montanhas Carpatas. No inverno, dizem que tais montanhas possuem otimas condicoes de ski, por um preco muito mais em conta que os Alpes.  

A noite foi se aproximando e no centro, o movimento de pessoas foi aumentando. Brasov e bem frequentada, mesmo nao sendo ainda um destino super explorado pela industria do turismo. Terminamos a noite cedo.

No dia seguinte, fomos ate Bran, famosa pelo castelo onde o ‘conde Dracula’ morou por uns tempos. Ele na verdade foi inspirado em Vlad III, que reinou sobre a Valaquia durante o Seculo XV, conhecido tambem como Vlad Tepes – o impalador, por suas sadicas praticas de execucao de seus inimigos.

O nome Dracula foi herdado de seu pai, Vlad II: guerreiro da Ordem do Dragão, símbolo de seu principado e destinada à defender o cristianismo e o Império da ameaça dos Otomanos. Em romeno “drac” significa dragão e “ulea”, filho de; assim, Vlad II foi chamado de Vlad Drácula, ou seja “o filho do Dragão”. A palavra “drac” também pode significar demônio.

Conta-se que em 1461, Mohammed II da Constantinopla desistiu de invadir a Transilvania diante da horrenda visão da floresta de 20.000 prisioneiros turcos empalados na entrada da cidade de Torgoviste. Mas este não foi seu recorde, no dia de São Bartolomeu de 1459, Vlad ordenara o empalamento de trinta mil pessoas.

Enfim, um sujeito encantador. A cidade de Bran fica ha duas horas de distancia de Brasov e e fortemente voltadao ao turismo, principalmente na encosta da colina do castelo, mas tirando este detalhe, foi ate que um passeio interessante.

Voltamos para brasov no final da tarde, e ficamos ali pelos arredores. Deixamos a cidade no dia seguinte, pelo meio da tarde.

 

Budapeste – Saturday – Sunday 2nd – 3rd August 2008

12 de agosto de 2008

Budapeste e considerada uma das mais interessantes capitais do Leste Europeu, cheia de opcoes para quem deseja fazer turismo, ou relaxar em seus banhos turcos, ou cair na balada, ou fazer tudo isto ao mesmo tempo, ja que num de seus clubs voce danca dentro de uma piscina aquecida.

 O Rio Danubio praticamente divide a cidade em duas: a Buda dos castelos e antigos monumentos e a Peste da vibrante vida noturna, bares, restaurantes e boulevards de compra.

A cidade tambem ostenta suas herancas do passado, que contribuem para fazerem dela um verdadeiro caldeirao de culturas. Dos turcos, que ocuparam a a regiao em 1526, herdaram as grandes termas,  do regime socialista, ficaram os sisudos predios de paredes escurecidas, dos Habsburgos, herdaram a elegancia em algumas belissimas construcoes, dos austriacos, os famosos cafes.

Com tantas opcoes em vista, decidimos comecar pela que nos pareceu mais prazerosa: pegamos o metro (que, segundo o Al e o mais antigo de toda a Europa!) e fomos ate Szechenyi Furdo, uma terma turca, com mais de nove piscinas aquecidas.

A terma esta hospedada num belissimo palacio, que atualmente funciona como um Hotel. Entramos e decidimos experimentar piscina por piscina. Incrivel, as piscinas ao ar livre alem de conseguirem manter a sua temperatura em pleno ceu aberto, tambem possuem jatos de hidromassagem.

 

Passamos uma tarde sensacional. Saindo de la, fomos ate Buda, ate o castelo na Varhegy, onde tambem estao os ultimos resquicios da cidade medieval. 

Fomos ate a parte frontal da construcao e dali, tivemos uma das mais belas paisagens da cidade: o Parlamento, o danubio, a cidade…

Paramos num restaurante. Um quarteto de musicos estavam tocando musica classica, um deles se aproximou de nossa mesa e me perguntou o que eu queria escutar, ali de susto, nao conseguia lembra de nada, e veio o obvio: Danubio Azul. Mas que caiu como uma luva naquele momento, naquela hora. E de frente para o rio, tentei imaginar o que Strauss estava pensando quando compos a famosa valsa.

Dali, descemos para Peste e paramos para jantar na movimentada area de Raday utca. Na mesa ao nosso lado, estavam sentados um casal americano muito simpatico. Comecamos a conversar com eles e, aparentemente, eles estavam ali para o circuito de Formula 1, que estava acontecendo naquele fim-de-semana. Eles ja haviam passado por outros circuitos, como por exemplo o de Monza e nossa conversa girou sobre este tema durante o jantar.

Assim que terminamos, compramos umas cervejas e voltamos para o hostel.

 

Na manha seguinte, fizemos o check out no Hostel e nos dirigimos a estacao de trem. Deixamos as mochilas no locker e, como nosso trem para a Transilvania somente saia no final da tarde, usamos o restante do tempo para explorar um pouco mais a cidade.

Fomos ate a praca dos herois, um grande monumento erguido em homenagem aos heróis húngaros. Ali nas proximidades, tem um parque bem bonito e ficamos ali, nas proximidades do lago. Pelo caminho, alguns senhores jogavam xadrez, que parece ser bem popular por aqui e encontramos pessoas jogando em praticamente quase todos os lugares que passamos. Algumas apostam dinheiro e, alem de passar o tempo, ainda tem a chance de fazer uma graninha!

Retornamos a estacao e tao logo nosso trem chegou, nos acomodamos, rumo a Transilvania!

Salzburg – Budapeste – Friday – 1st August 2008

12 de agosto de 2008

O Al teve o maior susto quando acordou: um policial estava batendo na janela da Van. Aparentemente era proibido estacionar ali e, como ja eram umas oito da manha, o Al aproveitou para ir para o aeroporto. Tava acabada da noite de ontem, confesso que nao vi nada disso e ja acordei no aeroporto de Salzburg.

Quando deu o horario de chegada do voo de Richard, fomos ate o desembarque. Ele havia nos enviado uma foto dele e de sua filhinha de quatro anos, que estaria viajando com ele. O reconhecemos com facilidade e paramos para um cafe. Aparentemente, ele estava a procura de uma Van para uma viagem que faria em Agosto, com a esposa e as duas filhinhas, para a Alemanha.

Ele parecia mais ansioso que agente e, analisando a situacao, a posicao dele realmente e bem mais vulneravel que a nossa: ele havia viajado de Londres para Salzburg, sem passagem de volta, para ver este carro, que ele conhecia somente por foto. Particularmente, achei um tanto loucura da parte dele, vir ate a Austria apenas para comprar um carro e voltar para a Inglaterra dirigindo direto, para comecar a viajar somente no mes seguinte, mas enfim, cada louco com suas manias!

Entramos na Van e levamos Richard e a filhinha para dar uma volta com a Van. Nos perdemos e caimos na autoestrada (despachamos o GPS para a Australia) e a Van se comportou super bem, nao fez nenhum daqueles barulhos estranhos que as vezes ela faz. Fomos ate a estacao de trem, Richard nos pagou o preco combinado, assinamos a papelada e nos despedimos.

Eu e o Al fomos andando em direcao a estacao, sem olhar para tras. Primeiro, porque como disse antes, estava triste de me desfazer da Van. Outra porque, deu tudo tao certo, que nao queria correr o risco de na ultima hora ele mudar de ideia. Senti que o Al tava pensando a mesma coisa. E assim, entramos na estacao de trem, e pegamos o trem de volta a Viena.

Paramos para um cafe, e de la, pegamos o trem para Budapeste.

A viagem foi tranquila, pegamos uma cabine so para agente. Quando nos aproximamos da cidade, uma simpatica hungara veio nos oferecer acomodacao num hostel em Buda, com um onibus gratis. Esta ultima parte nos agradou bastante e, junto com o bando de mochileiros do trem, seguimos com ela.

 

Durante o trajeto, passamos pela ponte que separa Peste e Buda e ali no horizonte, o por-do-sol fazia o fundo para as silhuetas das torres antigas da cidade. 

 

Budapeste e estranha, irresistivelmente estranha e, parece que a viagem esta se tornando mais viagem agora, que entramos em paises mais distantes de nossa realidade atual.

Deixamos nossas coisas no hotel e fomos jantar. Fomos ate o  Rio Danubio, que nao eh azul, mas cinza e cercado por grandes monumentos. Amanha com certeza iremos explora-los mais a fundo. Por hora, cama, nosso dia foi cheio.